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Crítica | Vidro, o fim da trilogia de 20 anos de Shyamalan

Por: | 10:55 2 comentários

E vocês achando que é a sequência de Avatar que tá demorando demais. HA HA HA!
Glass é praticamente o trabalho da vida de M. Night Shyamalan, que já dizia ter intenções para uma trilogia no ano 2000, quando Corpo Fechado (Unbreakable, 2000) foi lançado pela primeira vez nos cinemas! Então há de se entender a expectativa de muitos fãs do diretor por essa épica conclusão de sua franquia... e, como não há nenhuma indicação no título de que é uma sequência, há de se entender que muita gente vai ver o filme sem saber dos anteriores e sairão reclamando da sessão! 

A verdade é que o filme tem, sim, seus problemas, mas o resultado é nostalgia o suficiente para que os fãs pirem enquanto assistem e, talvez, deixem de lado alguns problemas de roteiro. 

Após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o herói de Corpo Fechado (2000). O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois.

Não preciso vir dizer o quão obrigatório é ter visto os dois outros filmes para realmente apreciar esse, correto? Então vamos em frente! A partir daqui, sem spoilers do filme! 


A história começa algumas semanas depois de Fragmentado (Split, 2017) acabar. David, interpretado novamente pelo Bruce Willis, ainda está na missão de se livrar de pessoas ruins uma por vez, mas sem foco em grandes crimes... Com desejo de fazer mais, mas com certas dúvidas. Alias, dúvida é o tema do filme. Toda a trama é baseada em como o ser humano lida com o conhecimento do que pode fazer. O Overseer (nome de herói que David ganha, traduzido como Vigilante) tem interesse em descobrir quem é responsável pelos sequestros recentes de garotas...

Quem assistiu Split sabe que o único responsável possível é A Horda, as 24 personalidades diferentes dentro do corpo de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy). E é então que a batalha está formada.. Mas não vai ser simples chegar até o confronto final desses dois personagens que demoraram 19 anos para cruzarem seus caminhos! 

E, com planos muito maiores para esses personagens do que eles poderiam imaginar, está Elijah (Samuel L. Jackson), ou Mr. Glass, que ficou preso em um hospital psiquiátrico por todos esses anos, mas ainda tem algumas cartas guardadas na manga. Como é bom saber que um crossover desses existe sem qualquer necessidade. Corpo Fechado e Fragmentado (tirando a última cena) funcionam muito bem sem ser necessário um crossover. O fato das histórias se unirem simplesmente porque PODEM se unir é maravilhoso demais para ignorar. Nem tudo merece crossovers e spin-offs... mas enquanto for movido por vontade criativa acima de interesse financeiro, pode vir!!


Vamos falar sobre esse elenco fantástico! Todos os protagonistas desse filme estão no topo do seu jogo! McAvoy é uma força da natureza mais uma vez e o diretor dá todas as chances da terra para que ele brilhe. As longas tomadas com a câmera girando e ele trocando de personalidade são algumas das cenas mais incríveis de se assistir. Se em Fragmentado tivemos a chance de conhecer 8 personalidades, em Glass ele interpreta 20 delas. É o tipo de atuação que não se vê todo dia e está ainda melhor do que estava no longa anterior. Parece que McAvoy teve, finalmente, anos para conhecer cada uma das personalidades o suficiente para se tornar intimo. Se tem um aspecto desse filme que é a prova de falhas é a atuação de James McAvoy. Deve ser ótimo trabalhar com um ator tão pronto para dar seu máximo.

O núcleo Corpo Fechado também está incrível. 

Bruce Willis revive facilmente o papel do vigilante da capa de chuva. Ele não tem grandes chances de mostrar atuação, como seus colegas de elenco, mas ele é sempre Bruce Willis. A presença de tela dele é enorme e a ironia que ele tem no olhar realça muito algumas cenas bem simples, como quando os três protagonistas estão na mesma sala juntos pela primeira vez. 

Mas Samuel. L. Jackson é o centro desse filme. Não é a toa que cada título de filme foi focado em um personagem. L. Jackson não tem que provar para ninguém o quão bom ator ele é, mas mesmo assim é como se ele abraçasse tanto cada nuance do Mr. Glass que é fascinante assistir. É a atuação mais real entre os três protagonistas. Enquanto McAvoy está em seu Tour de Force e Willis está mais simplificado, Samuel L. Jackson está levando o filme em frente.


Nos coadjuvantes, temos dois grupos. Os que voltaram, como se tudo estivesse desde sempre planejado, para essa sequência (mesmo depois de 19 anos)... e a novata! 

O filho de David (Spencer Treat Clark), a mãe de Elijah (Charlayne Woodard) e Casey, a garota imperfeita que foi poupada (Anya Taylor-Joy), todos voltam para seus papeis originais! O filme definitivamente não é focado neles, apesar de todos terem seus momentos no holofote. Anya Taylor-Joy é a mais relevante para a trama e utiliza muito bem suas cenas com McAvoy. O futuro dessa garota é brilhante no cinema, apesar de estar demorando um pouco mais do que eu imaginei para o reconhecimento vir, já que estou falando exatamente isso desde que vi A Bruxa (The VVitch, 2015) no cinema. 

Mas é a novata que realmente adiciona nesse elenco como eu não consigo imaginar outra no lugar. Sarah Paulson, que um dia ainda será muito mais reconhecida do que é hoje, domina suas cenas como Dra. Ellie Staple como ninguém poderia. A personagem dela tem a vantagem de ser praticamente uma indireta para todos os mais críticos de Fragmentado, que esperavam um filme sobre psicologia e não um filme de origem de monstro. Ela passa o filme tentando nos convencer de que tudo que vimos nos dois filmes anteriores é explicável... Ao ponto de fazer até o expectador suspeitar de quem realmente tá falando a verdade. 


M. Night Shyamalan simplesmente encontrou seu estilo de novo! A sua maneira de escrever e dirigir, de entender seus personagens e tirar o melhor deles... Esse filme grita Shyamalan! Existem certos aspectos dele que poderiam ser melhor explorados? Com certeza! Cenas em que o "o que acontece" está correto, mas o "como acontece" é bem forçado. Mas acho que isso é sintoma da confiança que Shyamalan tem em si mesmo de novo. Ele fez o filme que ele quis fazer, do jeito dele, e pagou inteiramente do próprio bolso o orçamento de 20 Milhões de Dólares, inclusive usando a própria casa de garantia (de acordo com a revista Forbes). 

O filme pode não ser perfeito, mas é um imperfeito tão autoconsciente que é fácil relevar certas coisas. Vidro responde à críticas de Fragmentado, tem diversas revelações muito bem preparadas, tem um elenco de peso extremamente dedicado... Os aspectos técnicos não ficam para trás. O uso de cores é extremamente inteligente, a fotografia é tão linda que as vezes distrai. É tudo muito Shyamalan. 

"Muito Shyamalan". Tem gente que vai considerar isso uma ofensa. Mas o que Vidro faz é pegar tudo que tinha de bom nos dois filmes anteriores e mesclar quase uma cartã de amor aos fãs que esperaram, sem saber, que uma trilogia de 20 anos acabasse. Tem referências ótimas, tem momentos de extrema tensão, tem momentos leves e (alguns) engraçados... Vai depender do quão aberto você está para curtir o filme. Shyamalan praticamente olha em seus olhos e diz "vai ser absurdo, sim". Dá pra sentir que ele ama cada momento desse filme. É na hora de explorar o intimo de cada personagem que ele brilha, e não nas cenas de ação e confronto. 


A mensagem é clara: Acredite em seu potencial, mesmo quando todo mundo vier provar pra você que ele não existe. Shyamalan vai precisar acreditar bastante nessa mensagem nos próximos anos, já que Glass não está sendo tão bem recebido quanto merecia. A verdade é que ele financiou o seu filme justamente para ter controle criativo total. E fez ótimo uso desse controle. Prefiro ver um filme livre assim do que um filme ótimo dentro dos padrões, limitado, só para agradar todo mundo. 

Shyamalan é e sempre foi um diretor que divide opiniões. Nem Sexto Sentido (Sixth  Sense, 1999) foi aclamado como deveria ter sido. Não é Vidro (Glass, 2019), o seu capitulo final ambicioso de uma trilogia sobre heróis, que vai conseguir esse feito. Mas, gostando ou não, é sempre bom formar essa opinião assistindo e não levar a sério apenas números e estrelas em sites de críticas...
Afinal, nada é mais gostoso do que assistir a um filme divisivo! 



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2 comentários: Deixe o seu comentário

  1. Excelente crítica. Adorei o filme e sua crítica

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    1. Muito obrigado :)
      Fico animado em conhecer mais fãs desse filme que está sendo tão mal-apreciado! Todas as pessoas que conseguiram apreciar um filmão desses tem um lugar especial no meu coração <3

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