way2themes

Filme vs. Livro | BIRD BOX - A história da melhor pior mãe!

Por: | 21:53 Deixe um comentário

     
Já faz muito tempo! A última vez que publiquei algo nesse blog foi em 2016 e foi uma crítica a BATMAN v. SUPERMAN. Três anos depois, eu procurava algo que me fizesse sair da aposentadoria. E então veio Bird Box, o mais novo fenômeno da Netflix... Bom, pode ser uma boa ideia... mas antes eu preciso ler o livro. E ver o filme... e fazer um SUPER POST COMPARAÇÃO! E aqui estamos!!

Eu terminei de ler o livro HOJE. Eu terminei de assistir ao filme NESSE MOMENTO! Então, não querendo alimentar meu próprio ego, mas acho que sou a pessoa mais preparada para falar sobre Bird Box que existe!
   
"Ah, mas tem o autor do livro..." 
NÃO, SOU EU AINDA!

"E o roteirista do filme?" 
Se ele tivesse lido o livro, eu nem ia precisar fazer textão!

Conclusão: Eu ainda sou o mais preparado!

Então vamos ao que importa:

O FILME

Vamos falar um pouco das partes que o filme acertou e errou! Deixaremos pra falar da adaptação um pouco mais tarde. O longa, dirigido por Susanne Bier (que também foi responsável por uma das minhas minisséries favoritas dos últimos anos, The Night Manager), tem bastante cuidado na hora de transitar entre os diferentes tempos e climas da história. Poderia ter sido mais escuro em tonalidade e mais pesado para um público adulto. Falando de um filme sobre pessoas que precisam da escuridão para sobreviverem, ele, ainda assim, é extremamente claro. 

O elenco é um grande acerto em todas as partes. Sandra Bullock (ganhadora do Oscar por Um Sonho Possível) talvez seja a menos dedicada. O filme dá todas as chances pra ela mostrar suas habilidades de atuação, mas elas não são aproveitadas. O que falta em atuação, ela compensa em carisma. Sandra Bullock nunca foi conhecida como ótima atriz, mas é simplesmente cativante de assistir. Sua atuação só não é o bastante quando comparada com outros atores em cena, muito mais interessados.

Sarah Paulson simplesmente domina o filme em suas poucas cenas! É muito claro que estamos vendo uma futura Oscar Winner. Pode não ser nessa década, mas dos anos 20 não passa! John Malkovich e Jacki Weaver brilham em seus papeis, apesar de terem pouquíssimo para trabalhar... principalmente Weaver. Trevante Rhodes é o ator que mais aproveita as muitas chances que tem. Se antes era apenas o ator de Moonlight (filme ganhador do Oscar de 2017), agora ele é um astro de blockbuster e podemos esperar muitos filmes nos próximos anos.
  











Esse filme sofre muito por ter sido lançado no mesmo ano que Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, estrelando John Krasinski e Emily Blunt). O que Um Lugar Silencioso soube fazer magnificamente bem é criar uma atmosfera de perigo até para quem só assistia. No cinema (e posso dizer isso depois de ter pago três vezes para assistir) até os grupos que geralmente conversam no fundo faziam completo silêncio. Apesar da atmosfera de terror ser bem real para os personagens de BIRD BOX, essa atmosfera não nos é passada de volta. 

Temos um bom filme, divertido, que poderia ser muito mais pesado e doloroso de assistir... mas que oferece o famoso "entretenimento na medida certa". Só consigo imaginar como a repercussão seria se o filme fosse um pouco mais gráfico. Isso faria as pessoas gostarem mais do filme ou faria ele ser ignorado como outros ótimos filmes já foram? Será que a formula para um sucesso extraordinário está em não ir longe demais?

LIVRO vs. FILME 


Ok. Aqui a coisa complica. SPOILERS ESTÃO VINDO!!

Já gostaria de começar dizendo que são artes completamente diferentes. Nem tudo que está num livro deveria ir para o filme, nem teríamos tempo para isso! Mas como o filme inventa muita coisa que nunca esteve no livro, eles tinham tempo para tentar serem mais fieis. O livro foi o primeiro escrito por Josh Malerman, e é um romance de estreia muito melhor do que a maioria dos autores pode se orgulhar. 

O maior acerto do livro é a criação da atmosfera, que eu estava falando antes. O livro cria um mundo tão tenebroso e violento que você gostaria de ler vendado! E isso não acaba hora nenhuma. Até quando Malorie está em segurança no retiro, ela tem medo do que pode acontecer. Então todas as vezes que os personagens do filme tiravam as vendas por qualquer motivo que fosse, era muito irritante. Qualquer ambiente ligeiramente fechado já era motivo para tirarem as vendas. No livro, o único lugar seguro para tirar as vendas era a casa, extremamente mais escura e bem menor do que a desse filme. 

O sentimento de claustrofobia em ficar trancado num ambiente pequeno demais para muita gente, com pouca comida e água, enquanto criaturas estão a espreita do lado de fora... esse sentimento não está na adaptação da Netflix. Alguns dos momentos mais tensos do livro são com a Malorie esperando Tom, a única pessoa em quem ela realmente confia, que está fora de casa enquanto ela imagina os mais diversos cenários onde tudo dá errado. É quando a paranoia bate nela e no leitor. Tudo é uma ameaça, inclusive as pessoas da casa, aquelas com quem ela está trancada 24hrs por dia. 


Quando o filme escolhe fazer com que Malorie seja uma heroína de ação com uma espingarda na mão, todo o medo que a gente tem que compartilhar com ela deixa de existir. Todos os personagens do filme estão preparados demais para esse "apocalipse". Comida nunca é algo realmente discutido, só mencionado... Quando vira preocupação, eles simplesmente vão no mercado... e tiram as vendas lá. Soluções e teorias sobre o mundo do lado de fora também são deixadas de lado. Quando eles tem vontade de sair da casa, eles simplesmente saem, sem o desespero que os aflige no livro. 

A maior parte da jornada da protagonista é perdida. Ela nunca esteve realmente sozinha. Quando a irmã morre, ela imediatamente já está dentro da casa onde ela vai passar o resto de sua história. Quando todo mundo morre por causa do Gary no livro, o filme fez questão de deixar o Tom vivo para ter um romance desnecessário e nada desenvolvido. Toda a força da Malorie vem de criar suas crianças sem ajuda nenhuma, preparando-as para o dia que precisariam ir para o rio. A ligação do Rick e do refúgio acontece no dia em que ela perde todo mundo. Ela passa quatro anos treinando as crianças para poderem ajudar na jornada. Desde recém-nascidos treinando a acordar com os olhos fechados. Quando acordavam com olhos abertos, apanhavam. Quando fechados, eram alimentados. Condicionados desde que começaram a existir. 

O clímax do livro acontece durante o parto de Malorie e Olympia. Sim, a mesma cena que não dura quase nada no filme. Greg tortura Malorie e Olympia psicologicamente enquanto todo mundo está morrendo no andar debaixo (por sinal, Greg entrar foi votação da casa inteira. Jogarem a culpa só na Olympia foi muito sujo). Malorie é obrigada a fazer o próprio parto, cortar o próprio cordão umbilical e tampar os olhos do seu filho enquanto as criaturas já estão até dentro da casa. Tudo isso com os olhos fechados, já que (diferente do filme) ninguém abre os olhos sem ter um ótimo motivo para isso! Isso já nos capítulos finais do livro. O filme coloca isso na metade... então parece que depois dessa cena, todo o resto é bem menos importante. A gente já viu os limites da loucura humana... o perigo deixa de ser as criaturas.


Nem todas as mudanças foram negativas. A decisão de não usar animais no filme foi ótima! Apesar dos cachorros em Caixa de Pássaros terem um papel muito importante, é melhor do que colocá-los apenas pra morrer em mais uma apelação para o emocional. Já que nada tem a profundidade que devia ter, é melhor deixar esse clichê para lá! O uso de GPS no carro é algo genial que o livro simplesmente esqueceu que existia... Mas todas as outras mudanças são negativas. 

No livro, o fato dela não ter nomeado as crianças faz muito mais sentido. É um mundo solitário, apenas treinados para sobreviver. No filme, essas crianças cresceram em "família". Tiveram um alicerce maior do que apenas a sobrevivência. Não há motivos para elas não terem nome. O momento em que as crianças ganham os seus nomes foi muito bem adaptado e a atuação da menininha (Vivien Lyra Blair, que eu espero que tenha uma longa carreira) foi perfeita ao ser chamada pela primeira vez de Olympia... uma inocência que estava bem descrita no livro!! 

  CONCLUINDO


Eu poderia passar mais alguns parágrafos falando sobre como a adaptação poderia ter sido melhor e mais fiel... mas a verdade é que existem centenas de maneiras de fazer um bom filme sem ser necessariamente fiel (Stanley Kubrick sabe do que eu tô falando). Bird Box não é nada fiel e, ainda assim, é um filme divertido de assistir. É um filme com conceitos originais, mas poderia ser bem mais original se seguisse o livro e não caísse em algumas coisas feitas de maneira bem mais original por Um Lugar Silencioso (como o sacrifício do pai pela família). Caixa de Pássaros, o livro, também não é muito bem escrito, mas a história é tão boa e criativamente conduzida que a gente releva certos clichês e entende que um romance de estreia deve ser usado para adquirir experiência. 

O importante é que o filme é um dos mais assistidos da história da Netflix, apresentou a Sandra Bullock para uma geração inteira que nunca assistiu Miss Simpatia ou Velocidade Máxima... E, principalmente, deu dinheiro para a Netflix fazer uns 50 filmes mais baratos!! Que venham mais adaptações. 


0 comentários:

Postar um comentário