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Homem-Aranha 1/7 - A Origem (2002)

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    "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades"
- Ben Parker
                     

    Com a chegada de Sem Volta Para Casa, o terceiro filme solo do Aranha do MCU, que promete (sem prometer de verdade) unir três gerações do aracnídeo, pensei que era uma boa hora de rever os filmes antigos e reparar o quanto eles sobreviveram (ou não) ao tempo. Será que temos vários vinhos engarrafados com cuidado ou só um montão de leite aberto? Acredito que teremos uma boa cota dos dois.

    Para começar, cada título terá um número, identificando os sete filmes que, até o momento, já foram lançados. Mas, sem mais delongas, vamos falar do primeiro filme do Homem-Aranha, dirigido por Sam Raimi e lançado em 2002. 

  


                           
    Começando com a sinopse, pra não perder o hábito:
    Depois de ser picado por uma aranha geneticamente modificada em uma demonstração científica, o jovem nerd Peter Parker ganha superpoderes. Inicialmente, ele pretende usá-los para para ganhar dinheiro, adotando o nome de Homem-Aranha e se apresentando em lutas de exibição. Porém, ao presenciar o assassinando de seu tio Ben e sentir-se culpado, Peter decide não mais usar seus poderes para proveito próprio e sim para enfrentar o mal, tendo como seu primeiro grande desafio o psicótico Duende Verde.


    Quero já começar dizendo que admiro como o filme não perde tempo. Considerando que, em 2002, não existia uma fórmula ou um modo correto de fazer esses filmes (o mais próximo disso até então era o X-Men do Bryan Singer e a fórmula do MCU estava há décadas de ser implementada), é surpreendente o quão rápido ele entra no ritmo e o quão fielmente se mantem nesse ritmo até os créditos finais. Se tirarmos os três minutos iniciais de créditos, nós temos apenas sete minutos de Peter Parker sendo um jovem normal. E que sete minutos fenomenais são esses. A empatia é imediata: vemos ele correndo pra pegar um ônibus (quem nunca?), sofrendo um pouco de bullying (quem nunca?²), apaixonado sem coragem de se declarar (quem nunca?³), ele é a perfeita representação de alguém que todo mundo já foi uma hora ou outra na vida. 


    E aí ele é picado por uma aranha mutante e tudo muda... Ou não muda? A verdade é que essa é a chave para o sucesso desse primeiro filme. Nada muda. Sim, ele tem habilidades incríveis agora... Mas continua correndo pra pegar o ônibus, sofrendo bullying e sem coragem de se declarar pra quem ama. Os poderes não mudam quem ele é, só adicionam mais uma camada de complicações na história. É instantaneamente cativante e evidencia ainda mais onde erra o aranha do... ops, me precipitando, não é mesmo? Ainda estamos começando a jornada! Cada aranha na sua teia...


 


                                 

    Ao mesmo tempo que Peter é introduzido, todos os personagens que serão relevantes para o filme são apresentados nos primeiros dez minutos. Temos o melhor amigo, o interesse romântico, o vilão, a família do herói, todos com histórias extremamente interligadas para facilitar os encontros necessários. Peter é apaixonado por Mary Jane, que foi vizinha dele e dos tios a vida toda, mas que agora namora o melhor amigo de Peter, Harry Osborn, filho de Norman Osborn que se torna o Duende Verde em 17 minutos de filme. É uma aula de como ganhar tempo em roteiro. 


    Não é explicito o tanto de tempo que o filme abrange, mas acredito que o roteiro seja quase um aluno da Escola Harry Potter de Resumir 1 Ano em Duas Horas. Em 30min de filme, já vemos os tios de Peter preocupados pois faz muito tempo que ele não tá sendo ele mesmo. Em 50min, ele já se forma no colegial. Em 1 hora, ele já arranjou um emprego com o Dr. Curt Connors, perdeu esse emprego por atrasar várias vezes, já está procurando outro trabalho. Em 1h17m, ele já construiu uma ótima reputação como Homem-Aranha e já teve essa reputação destruída pelo Clarim Diário. Resumindo, o filme é abrangente. Ainda assim, não parece apressado, parece apenas levar a história pra onde ela precisa ir.


    O crescimento do protagonista é notável. Vemos um jovem que nunca pôde tomar uma decisão egoísta. Na primeira que tomou, movido por uma frustração imensa, perdeu a única figura paterna que já teve. Depois disso, passa o filme abrindo mão da sua própria vida pelo bem dos outros. 


  


                                     
    É importante falar disso aqui, principalmente pelo contraste com as demais versões do personagem, mas esse Peter é um Peter que não vence. Quando ele tá sofrendo nas mãos dos outros alunos da escola, ele é só uma piada. No momento que ganha o poder de reagir, ele é visto como um monstro. Ele não ganha dinheiro para ser o Homem-Aranha, então precisa trabalhar, mas não consegue trabalhar bem por ser um herói nas horas livres. O tio morreu, a tia foi atacada por descobrirem quem ele é. A namorada foi sequestrada pelo mesmo motivo. Apesar do filme acabar num passeio triunfante do Homem-Aranha pelos arranha-céus de NY, seu alter ego não acompanha esse sucesso. Peter Parker acaba o filme com um segredo pesadíssimo nas costas, desempregado, sem a mulher que ele ama, escondendo o segredo do Norman pelo bem do Harry e sabendo o ódio que o melhor amigo carrega de sua outra metade. É exaustivo ser o Homem-Aranha, mas com grandes poderes vem grandes responsabilidades.  


    Outros dois elementos interferem diretamente na qualidade de um filme do octópode (sério, não sei mais do que chamar o Homem-Aranha pra não ficar tão repetitivo, me perdoem): vilão e par romântico. 


    Nesse filme, temos um vilão icônico por diversos motivos. Sua presença é igualmente forte e intimidadora antes e depois de se tornar o Duende Verde. Que trabalho maravilhoso de Willem Dafoe. Norman Osborn é um pai exigente que parede demonstrar pouco o amor que sente pelo filho. Está trabalhando a vida toda em um projeto que é descartado como lixo, é tirado do poder de sua própria empresa e vê no Aranha o único obstáculo para que consiga tudo que quer. O que ele quer? Após destruir o conselho da sua empresa, não existe nenhuma outra motivação clara. É dito "poder além da imaginação", mas é algo genérico demais para poder ser preocupante. A gente releva, mas tira ponto no final! 


 


                                 
    A maior falha na construção do personagem é na dualidade entre o Duende e o Norman. Em um momento estamos vendo os dois conversarem entre si, discutindo objetivos e métodos com opiniões contrárias, duas pessoas totalmente diferentes, mas essa é a única cena em que isso acontece. Se a intenção era tratar o Duende como uma entidade separada do Norman, como se apenas um assumisse o controle por vez, não não faz sentido o tanto de cenas que eles intercalam sem esforço, principalmente na cena de ação de graças ou na última tentativa de manipular o Peter no final. Parece que o filme tem uma ideia e desiste dela logo em seguida. Ainda assim, um grande vilão e uma ameaça física e psicológica real.


    No quesito par romântico, eu sempre tive muitos problemas com Mary Jane Watson. Talvez eu goste mais dela hoje do que jamais gostei antes, mas sinto que ela amou o Homem-Aranha antes de amar o Peter, ainda que na última cena do filme ela diga o contrário. Existem muitas atitudes manipuladoras. Ela sabe desde o começo o quanto o Peter gosta dela. Ela praticamente tenta manipular ele a se declarar enquanto tá indo jantar com o Harry. Acho que existem muitas linhas curvas na personagem como par romântico. Como pessoa, gosto que ela seja uma sonhadora, gosto que ela não aceita desaforo, gosto que ela sinta que é livre o suficiente pra fazer o que quer e dar uns pegas em quatro caras diferentes (até onde ela sabe) num só filme. Bem diferente de como a mocinha é vista na maioria dos filmes de herói. Mary Jane tem as falhas dela, e só por não ser perfeita já é melhor que a maioria.


    Eu quero muito focar apenas em critérios humanos, até porque meu ponto aqui é a evolução e transformação da história durante vinte anos. Mesmo assim, seria insano demais não falar um pouquinho da parte técnica. Visualmente, o filme sobreviveu muito bem ao tempo. Até as cenas mais explicitamente geradas por computação gráfica não causam estranheza aos olhos. Fiquei bem surpreso com a qualidade. Dá pra perceber que tudo foi feito com o cuidado máximo que merecia. É importante dizer isso aqui porque eu sei que no futuro isso não vai se manter verdade. 
   

    Ah, e palmas para Danny Elfman, que entregou uma trilha tão maravilhosa que até hoje é instantaneamente reconhecível. 
 


                            

    "Não importa o que eu faça, não importa o quanto eu me esforce, aqueles que eu amo sempre irão pagar"

    Com essa frase, dita por Peter no final do filme, eu concluo meus pensamentos sobre Homem-Aranha (2002). Isso é o que resume o personagem. É necessário risco, é necessário perda e é necessário esperança. É a história de um herói fazendo tudo que pode pra manter todos a salvo acima de suas vontades ou de seu próprio bem estar. Sinto que isso se perde em alguns filmes do Aranha, mas, como eu disse antes, eu não vou me precipitar. Falaremos deles na hora certa!


    Esse filme merece 8/10 aranhas douradas! 
              

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