Antes de mais nada gostaria de dizer que no fim da postagem, em seu último parágrafo, eu tratei de um assunto bem sério que diz respeito ao final do filme O Jogo da Imitação. É muito importante que seja lido, para que possamos ajudar a fazer justiça por quem merece. Obrigado pessoal, agora vou continuar a crítica normalmente.
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“Às vezes, são as pessoas das
quais não esperamos nada que fazem as coisas que ninguém imagina”
THIS IS HOW YOU DO IT! Isso sim é uma
cinebiografia profunda. Não ta aqui pra fazer bonito pros críticos, ta aqui pra
lavar roupa suja de um país inteiro através da arte. Incisivo, esse sim, não
poupou críticas a ninguém, nem a si mesmo. Esses são os filmes que um dia se
tornam clássicos. Esses são os filmes que, em sua grande maioria, não são
verdadeiramente reconhecidos em seu ano de lançamento, mas que continuarão
conquistando fãs enquanto o tempo passa. É uma história que precisava ser
contada, e foi, magistralmente, com tudo que tinha direito.
O Jogo da Imitação conta a
história de Alan Turing, um gênio matemático que é contratado para quebrar o
código de mensagens secretas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Com a
ajuda de uma equipe formada pelos melhores da área, eles descobrem que decifrar
os segredos da máquina Enigma é só o começo de seus problemas.
Benedict Cumberbatch estrela como Alan Turing. Vamos
encarar os fatos aqui, Cumberbatch é o ator do momento. Todo diretor quer
trabalhar com ele, todo ator quer contracenar com ele, e o cara fez seu nome
ser relevante em todas as áreas do entretenimento moderno. Séries de TV, filmes
de comédia, filmes de drama, blockbusters, animações, os últimos anos foram de
Cumberbatch. Com isso, cresce muito a expectativa presente em todos os seus
trabalhos. Mas ele da conta.
A atuação do protagonista aqui é
genial. Turing tem tantas facetas a serem exploradas que nunca parece que
estamos vendo o mesmo personagem em todas as cenas. Há uma evolução muito
grande entre o momento que o filme começa e o momento que ele acaba. Bem mais
sutil que a evolução de Stephen Hawking
em A Teoria de Tudo, ja que não é física, e sim psicológica, emocional, mas igualmente perceptível. Cada duvida interna
dele, cada instante de hesitação entre confiar ou se manter recluso,
Cumberbatch transmite com brilhantismo. Sem falar o show que ele fornece nas
ultimas cenas do filme, extremamente sincero. Não há um ponto fraco em sua
atuação aqui. Por alguns momentos apenas eu pensei ver Sherlock Holmes (o papel
que lhe lançou à fama, na série da BBC) e não Alan Turing, mas isso se deve
muito mais a particularidades semelhantes entre os personagens do que a falhas
na atuação.
Keira Knightley interpreta Joan
Clarke, a única mulher da equipe criada para quebrar o código nazista.
Knightley já provou diversas vezes que é uma ótima atriz, mas parece não
encontrar o papel que a deixe brilhar de verdade. Aqui não é diferente. Joan
tem alguns bons diálogos e momentos no filme, mas nada que justifique uma
possível vitória ao Oscar. Ainda assim, ela é consistente e fácil de se
assistir. Ela traz a leveza que o filme precisa.
O que faz o filme ser incrível é
a gigantesca crítica social que ele demonstra, evidenciando algumas prioridades
distorcidas da sociedade da época. Um gênio matemático tentando salvar milhões
de vidas e ajudando a vencer a maior guerra que o mundo já viu, mas sendo
julgado como uma vergonha à sociedade por sua sexualidade. O filme desenvolve
isso muito bem. No começo, não faz diferença alguma a sexualidade dele, mas aos
poucos o tema vai crescendo, e no final podemos ver as conseqüências disso,
mesmo depois de tudo que ele fez para a Inglaterra.
A direção de Morten Tyldum é bem
forte. O filme, até quando está em seus momentos “engraçados”, tem sempre um
agouro de que você não viu o pior que pode acontecer ainda. É realmente um
suspense, não da pra colocá-lo em qualquer outro gênero. E a trilha sonora
colabora com isso. Diferente da outra cinebiografia indicada ao Oscar esse ano,
a trilha de Alexandre Desplat complementa o filme, não rouba o filme pra ela.
Um trabalho perfeito de combinação entre trilha e obra.
Mas, em filmes biográficos principalmente, o
roteiro é a parte mais importante. É onde o filme prova se todo o esforço das
pessoas ao redor vai valer a pena ou não. Baseado no livro de Andrew Hodges, o
roteiro de Graham Moore é algumas vezes impreciso. Muita coisa da história real
foi mudada para se encaixar em um filme com apelo comercial, o que levou a
duras críticas ao roteirista por alguns estudiosos. Mas o núcleo da história, a
injustiça cometida, a genialidade de Turing, estão todos muito fieis a
realidade. Se o resto foi um pouco romantizado para que a história pudesse
atingir mais pessoas, ótimo, está totalmente justificado. Só tenham em mente
que um filme baseado numa história real não necessariamente significa mandar
uma câmera de volta pro passado e filmar tudo exatamente como aconteceu. É uma
visão artística de um roteirista um pouco inexperiente, mas com um grande
futuro pela frente.
Concluindo, o filme é ótimo, faz
jus a sua indicação ao Oscar em oito categorias, mas deve sair de mãos abanando
da cerimônia. Tudo bem, ficará pro futuro o reconhecimento ao filme. Mas
gostaria de deixar uma pequena observação aqui, e se você não viu o filme, você
pode parar de ler porque terão spoilers sobre o fim de Alan Turing, mas é por
uma incrível boa causa. Se não liga para spoilers, peço que continue também.
Como o fim do filme avisa, Alan
Turing não foi o único homem da época a ser perseguido por sua sexualidade e
condenado por “indecência grave”. 49 mil homens foram condenados com base na
mesma lei. Apenas Alan Turing recebeu perdão póstumo em 2013, pela Rainha
Elizabeth II. Os outros milhares até hoje não receberam a prestação de respeito
que mereciam. É por isso que está rolando uma petição na internet Pardon49k.org
para que o governo britânico conceda perdão a todos eles. Isso não conserta o
que todos eles já passaram, mas pelo menos a família pode saber que eles não
foram esquecidos. Mais de 500mil pessoas já assinaram, e esse número vai
continuar crescendo. Gostaria de pedir para que todos assinem também. Cinema é bom, cinema com benefícios sociais é melhor ainda. Pardon49k.org
LINK DA PETIÇÃO NOVAMENTE: Pardon49k.org
Valeu pessoal, por hoje é só!
O que achou de O JOGO DA IMITAÇÃO? Gostou? Odiou?
Se ainda não assistiu, planeja assistir?
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