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Crítica | O Jogo da Imitação (2014)

Por: | 22:00 Deixe um comentário

Antes de mais nada gostaria de dizer que no fim da postagem, em seu último parágrafo, eu tratei de um assunto bem sério que diz respeito ao final do filme O Jogo da Imitação. É muito importante que seja lido, para que possamos ajudar a fazer justiça por quem merece. Obrigado pessoal, agora vou continuar a crítica normalmente. 
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“Às vezes, são as pessoas das quais não esperamos nada que fazem as coisas que ninguém imagina”

THIS IS HOW YOU DO IT! Isso sim é uma cinebiografia profunda. Não ta aqui pra fazer bonito pros críticos, ta aqui pra lavar roupa suja de um país inteiro através da arte. Incisivo, esse sim, não poupou críticas a ninguém, nem a si mesmo. Esses são os filmes que um dia se tornam clássicos. Esses são os filmes que, em sua grande maioria, não são verdadeiramente reconhecidos em seu ano de lançamento, mas que continuarão conquistando fãs enquanto o tempo passa. É uma história que precisava ser contada, e foi, magistralmente, com tudo que tinha direito.


O Jogo da Imitação conta a história de Alan Turing, um gênio matemático que é contratado para quebrar o código de mensagens secretas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial. Com a ajuda de uma equipe formada pelos melhores da área, eles descobrem que decifrar os segredos da máquina Enigma é só o começo de seus problemas. 


Benedict Cumberbatch estrela como Alan Turing. Vamos encarar os fatos aqui, Cumberbatch é o ator do momento. Todo diretor quer trabalhar com ele, todo ator quer contracenar com ele, e o cara fez seu nome ser relevante em todas as áreas do entretenimento moderno. Séries de TV, filmes de comédia, filmes de drama, blockbusters, animações, os últimos anos foram de Cumberbatch. Com isso, cresce muito a expectativa presente em todos os seus trabalhos. Mas ele da conta.

A atuação do protagonista aqui é genial. Turing tem tantas facetas a serem exploradas que nunca parece que estamos vendo o mesmo personagem em todas as cenas. Há uma evolução muito grande entre o momento que o filme começa e o momento que ele acaba. Bem mais sutil que a evolução de Stephen Hawking  em A Teoria de Tudo, ja que não é física, e sim psicológica, emocional, mas igualmente perceptível. Cada duvida interna dele, cada instante de hesitação entre confiar ou se manter recluso, Cumberbatch transmite com brilhantismo. Sem falar o show que ele fornece nas ultimas cenas do filme, extremamente sincero. Não há um ponto fraco em sua atuação aqui. Por alguns momentos apenas eu pensei ver Sherlock Holmes (o papel que lhe lançou à fama, na série da BBC) e não Alan Turing, mas isso se deve muito mais a particularidades semelhantes entre os personagens do que a falhas na atuação. 


Keira Knightley interpreta Joan Clarke, a única mulher da equipe criada para quebrar o código nazista. Knightley já provou diversas vezes que é uma ótima atriz, mas parece não encontrar o papel que a deixe brilhar de verdade. Aqui não é diferente. Joan tem alguns bons diálogos e momentos no filme, mas nada que justifique uma possível vitória ao Oscar. Ainda assim, ela é consistente e fácil de se assistir. Ela traz a leveza que o filme precisa.

O que faz o filme ser incrível é a gigantesca crítica social que ele demonstra, evidenciando algumas prioridades distorcidas da sociedade da época. Um gênio matemático tentando salvar milhões de vidas e ajudando a vencer a maior guerra que o mundo já viu, mas sendo julgado como uma vergonha à sociedade por sua sexualidade. O filme desenvolve isso muito bem. No começo, não faz diferença alguma a sexualidade dele, mas aos poucos o tema vai crescendo, e no final podemos ver as conseqüências disso, mesmo depois de tudo que ele fez para a Inglaterra.  


A direção de Morten Tyldum é bem forte. O filme, até quando está em seus momentos “engraçados”, tem sempre um agouro de que você não viu o pior que pode acontecer ainda. É realmente um suspense, não da pra colocá-lo em qualquer outro gênero. E a trilha sonora colabora com isso. Diferente da outra cinebiografia indicada ao Oscar esse ano, a trilha de Alexandre Desplat complementa o filme, não rouba o filme pra ela. Um trabalho perfeito de combinação entre trilha e obra.

Mas, em filmes biográficos principalmente, o roteiro é a parte mais importante. É onde o filme prova se todo o esforço das pessoas ao redor vai valer a pena ou não. Baseado no livro de Andrew Hodges, o roteiro de Graham Moore é algumas vezes impreciso. Muita coisa da história real foi mudada para se encaixar em um filme com apelo comercial, o que levou a duras críticas ao roteirista por alguns estudiosos. Mas o núcleo da história, a injustiça cometida, a genialidade de Turing, estão todos muito fieis a realidade. Se o resto foi um pouco romantizado para que a história pudesse atingir mais pessoas, ótimo, está totalmente justificado. Só tenham em mente que um filme baseado numa história real não necessariamente significa mandar uma câmera de volta pro passado e filmar tudo exatamente como aconteceu. É uma visão artística de um roteirista um pouco inexperiente, mas com um grande futuro pela frente.

Concluindo, o filme é ótimo, faz jus a sua indicação ao Oscar em oito categorias, mas deve sair de mãos abanando da cerimônia. Tudo bem, ficará pro futuro o reconhecimento ao filme. Mas gostaria de deixar uma pequena observação aqui, e se você não viu o filme, você pode parar de ler porque terão spoilers sobre o fim de Alan Turing, mas é por uma incrível boa causa. Se não liga para spoilers, peço que continue também.


Como o fim do filme avisa, Alan Turing não foi o único homem da época a ser perseguido por sua sexualidade e condenado por “indecência grave”. 49 mil homens foram condenados com base na mesma lei. Apenas Alan Turing recebeu perdão póstumo em 2013, pela Rainha Elizabeth II. Os outros milhares até hoje não receberam a prestação de respeito que mereciam. É por isso que está rolando uma petição na internet Pardon49k.org para que o governo britânico conceda perdão a todos eles. Isso não conserta o que todos eles já passaram, mas pelo menos a família pode saber que eles não foram esquecidos. Mais de 500mil pessoas já assinaram, e esse número vai continuar crescendo. Gostaria de pedir para que todos assinem também. Cinema é bom, cinema com benefícios sociais é melhor ainda. Pardon49k.org

LINK DA PETIÇÃO NOVAMENTE: Pardon49k.org

Valeu pessoal, por hoje é só! 


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