Que filme lindamente bem feito eu
acabei de assistir. A Teoria de Tudo é feito com tanta delicadeza por seus
realizadores que é inevitável se emocionar durante toda sua duração. Nada está
fora do lugar, nada é exagerado (tirando alguns momentos), e a história é construída
exatamente como deveria ser em um filme baseado em história real: realisticamente.
Tecnicamente e humanamente incrível. Esse é um filme que realmente merece as
suas indicações ao Oscar. Mas certas coisas impedem sua vitória.
A Teoria de Tudo conta a história
de Stephen Hawking e de sua primeira esposa, Jane Wilde, desde o momento em que
se conheceram até toda a jornada juntos tentando superar as dificuldades que a
doença dele causou na família. Ao mesmo tempo mostra a ascensão de Hawking,
indo de um simples estudante em Cambridge à um dos físicos mais brilhantes de
todos os tempos.
Primeiramente, não da pra deixar
de admirar a atuação do protagonista. Eddie Redmayne pegou talvez o papel mais
difícil do ano e interpretou da maneira mais magnífica que poderia. Não é
simplesmente um personagem que pode ser feito do jeito do ator, é uma
personalidade admirada por milhões e com características próprias. O verdadeiro
Hawking e sua família ainda estão vivos, então tem que ser uma interpretação
tão respeitosa e fiel que é até difícil pensar na pressão que deve ter sido protagonizar
um filme desses. Mesmo assim, não há uma simples falha aqui. Mesmo quando a doença
chega num nível em que Hawking não consegue mais falar, Redmayne encontra
maneiras de comunicar toda mensagem do filme através dos olhos ou dos
movimentos da boca. É extremamente tocante. Uma atuação digna de Oscar.
Mas, acima de um filme sobre
Stephen Hawking, o filme é sobre Jane e sua dedicação e amor a esse homem
fantástico. É um papel consideravelmente mais fácil de ser interpretado, mas
que também segura o filme todo em suas costas. Felicity Jones demonstra uma
dedicação e sensibilidade tão grande que por diversos momentos da pra se
esquecer de que é uma personagem e só apreciar essa mulher divida entre o amor
da sua vida e o futuro livre que ela poderia ter. Algumas cenas são de tirar o fôlego.
A emoção que corre junto com ela em cada decisão, cada palavra dita, é forte
demais para não ser reconhecida. Atuação digna de Oscar, mais uma vez. Infelizmente, para
ela, sua categoria esta bem mais concorrida esse ano.
A relação dos dois é mostrada com
bastante cuidado. Vemos o momento em que se vêem pela primeira vez, o momento
em que começam a se conhecer, o momento em que já estão praticamente
apaixonados e o momento em que Jane faz a maior prova de amor possível. O filme
não deixa nem você se acostumar com os dois felizes e saudáveis. Depois de
alguns minutos, os primeiros sintomas já aparecem no Hawking, e com menos de
meia hora tudo já é diagnosticado, deixando uma hora e meia de filme ainda para
ver como o amor dos dois lida com tudo isso que está acontecendo.
Mas definitivamente o grande
brilho do filme é sua trilha sonora. É um show aos ouvidos, do primeiro segundo
até os créditos finais. Infelizmente, em alguns momentos o brilho é forte
demais. Aqui vai meu problema com essa trilha: parece tão esforçada em ser
premiada e chamar atenção, que por alguns momentos, durante o filme, ela me tirou
o foco. Parecia que o filme tinha sido criado como complemento para a trilha, e
não o contrário. Um videoclipe gigante. A impressão passa e não afeta o
resultado final, com certeza é uma das favoritas pro Oscar de melhor trilha
sonora, mas não vou mentir e dizer que isso não me incomodou um pouco em certas
partes.
Na absoluta maioria das cenas, tudo
funciona perfeitamente, como um relógio extremamente aguçado e regulado com as
melhores peças. A brilhante direção de James Marsh é impecável; a fotografia de
Benoît Delhomme é linda; o figurino ta completamente fiel a época, assim como
tudo ao redor dos personagens. De qualquer jeito, o filme me passou muito uma
imagem de “fazendo uma cinebiografia segura”. Não há riscos aqui. Não há uma
inovação cinematográfica. Não há grandes choques, ou surpresas, ou mesmo
evolução de personagem. Se um personagem é bom, fantástico e bem humorado, ele
vai passar por todos os problemas da terra e ainda ser bom, fantástico e bem
humorado, não há exploração de fraquezas humanas aqui. Ele parece explorar uma
fraqueza quando o Jonathan (Charlie Cox) aparece na história, mas isso é
deixado de lado muito rapidamente, antes que algo grave seja mostrado. A
história é totalmente linear. Isso é um defeito? Não exatamente, mas
definitivamente não é uma qualidade. Pareceu muito preocupado em agradar
críticos ou agradar as pessoas reais representadas na tela do que realmente em
cavar um pouco mais fundo na história.
O filme é exatamente como deveria
ser, como se espera que ele seja, com um fortíssimo apelo emocional inclusive (por
mais que a cena final “voltando no tempo” tenha sido completamente exagerada e
desnecessária nesse quesito. Pareceu mais um “não sei como acabar... vou acabar
no início então”). Mesmo assim, faz falta algo que o diferencie dos outros, que
o torne mais que um filme perfeito. Eu costumo valorizar mais filmes arriscados
e com falhas, do que filmes que ficam presos nessa zona de conforto do gênero. No
quesito filme, ele é perfeitamente bem feito e vai ser lembrado e visto por
muito tempo. Em quesito concorrente, ele é fácil de bater.
Concluindo, é um filme muito bom,
acho que um dos mais fáceis de assistir dos indicados ao Oscar desse ano. Ele começa
muito bem, flui muito bem, e termina na época correta da vida dos dois.
Atuações marcantes e reconhecidas pelas premiações, com uma ótima trilha sonora
embalando tudo e uma direção invejável. O filme foi aprovado até mesmo pelo
Hawking, que disse que, em certos momentos, se sentiu assistindo a si próprio
na tela e ainda permitiu que sua voz mecânica oficial (protegida por direitos
autorais) fosse usada durante o filme. Apesar da falta de inovação, o que faz falta depois que ele termina, o filme é um dos poucos sem falhas que eu ja assisti. Não ter erros não significa que não poderia ser melhor.
Vale a pena conferir! Até a próxima o/
O que achou de A TEORIA DE TUDO? Gostou? Odiou?
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