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    "Eu não sou uma pessoa má... Só não tive sorte." - Flint Marko
  

    E chegamos no não-tão-amado terceiro filme do cabeça de teia. Aqui a missão era clara: subir o nível! Tivemos um filme adorado e outro filme extremamente aclamado. Pra onde ir agora? Seguir o caminho tão bem traçado até então? Ou fazer todo o possível pra entregar um espetáculo maior? A decisão tomada foi a errada e Sam Raimi tem total clareza de onde errou, o que torna mais fácil o trabalho que farei a seguir: botar fogo nos restos!
   

    Só lembrando que esse texto é o terceiro no meu objetivo de desmembrar a saga até o lançamento de Homem-Aranha: No Way Home. Um por dia! Então caso não tenha lido os outros, tem dois antes e quatro depois. Bora lá porque relembrar é viver!

 


    

    Começando com outra sinopse horrível tirada do Google:
    O relacionamento entre Peter Parker e Mary Jane parece estar dando certo, mas outros problemas começam a surgir. A roupa de Homem-Aranha torna-se preta e acaba controlando Peter - apesar de aumentar seus poderes, ela revela e amplia o lado obscuro de sua personalidade. Com isso, os vilões Venom e Homem-Areia tentam destruir o herói.
   

    Beleza. Vamos para o início. Esse filme já começa em um lugar bem diferente dos anteriores. Ao invés do herói quebrado (emocionalmente e financeiramente), temos aqui um Homem-Aranha no auge do seu sucesso. Namorando o amor da vida dele, sem os notáveis problemas financeiros, sendo amado por todos os cidadãos de NY. Você até pensaria que o Peter é rico agora se ainda não tivesse um senhorio cobrando aluguel atrasado. Fora a vibe "Seu Madruga", não tem nada no filme que mostre que nosso herói ainda sofre com os perrengues do dia-a-dia. 

    "Ah, mas já tivemos isso em dois filmes. Realmente precisava mostrar o quão quebrado o Peter é em um terceiro filme seguido?" Não necessariamente. Mas as características do Homem-Aranha que tornam ele agradável de acompanhar, que fazem o público se identificar com ele, são justamente as partes humanas. No momento que a gente entrega um extremo sucesso na mão dele, ele deixa de ser "empatizável". A personagem mais humana desse filme é a Mary Jane, mas chegaremos lá na hora certa.
 
             
    Já sabemos o que o Peter NÃO VAI SER nesse filme. Então o que ele é? A resposta simples é "um grande escroto", mas é mais complexo que isso. Sabemos que o simbionte alienígena tá na terra e, como dito pelo dr. Connors, ele "amplifica as características do hospedeiro", o que leva a entender que um Peter do bem seria só mais bondoso e não é isso que o filme quer. Qual a solução? Uma hora de Peter Parker com um ego gigantesco, com zero empatia e responsabilidade emocional, mesmo que isso não tenha NADA a ver com o Peter que a gente conhece, só para justificar o quanto essas características pioram após o simbionte grudar nele. Resumindo, não vamos só tirar tudo que fazia o personagem agradável, mas vamos substituir essas características por uma dose extra de babaquice. 

    Ok, acho que já tá claro que eu odeio o Peter nessa história. 

    Vamos falar sobre os vilões. Depois de três filmes construindo essa transformação, finalmente temos um novo Duende Verde. E eu realmente não sei se essa é uma opinião polêmica ou não, mas ele é a melhor coisa desse filme. Ele não tem espaço pra consertar o filme no meio de tanta bagunça, mas ele tenta. Ele tem uma ótima cena de ação logo no começo do filme, perde a memória (o que pode parecer meio novela mexicana, mas é fiel aos quadrinhos), volta a ser o melhor amigo do Peter, recupera a memória, volta a ser vilão, quase morre nas mãos do herói e ainda tem um arco de redenção. Digo sem peso na consciência que esse filme seria maravilhoso com o principal vilão sendo o Harry. 

 

   
    Eu gosto do Homem-Areia também. Flint Marko tem uma história que vale a pena contar, segue dentro dos padrões antigos de vilões pelas circunstâncias, ele cabe no filme. O grande problema é adequar a história dele ao resto das coisas que precisa acontecer. Ele precisa de um backstory que conecta ele ao assassinato do Tio Ben há anos, só pra justificar o ódio do Homem-Aranha pra, mais uma vez, dar mais motivos pro simbionte transformar ele em uma pessoa pior. 

   Eddie Brock eu simplesmente nem sei o que comentar. Talvez se começassem o desenvolvimento dele nesse filme e transformassem ele em Venom em outro, eu até podia gostar. Mas ele é insuportável do primeiro momento que entra em cena até o último. E não é como se ele fosse MAU. É antiético, com certeza. Talvez um pouco sem noção, mas nada que não merecesse um arco digno. É tão preguiçosa a construção dele que ele só serve pra ser oposição ao Peter como fotógrafo, depois oposição ao Peter como criatura com poderes aracnídeos e aí escolhe explodir com o simbionte. Tão bidimensional que até colocam ele pra dizer "eu gosto de ser mau, isso me faz feliz" apenas pra não se esforçarem em dar uma história pro coitado que seja DELE e não do Peter. 

    Eu tô convencido que o maior vilão desse filme é o próprio Peter. Então vamos falar da sua maior vítima: Mary Jane Watson. Uma construção de três filmes aqui. Bora para ANALISANDO MARY JANE WATSON!! Se preparem pro textão!

 


    
    No primeiro filme, ela só tem um sonho: SER ATRIZ DE TEATRO. Começa a trabalhar de garçonete em meio a audições com um chefe totalmente abusivo, andando de noite nas ruas perigosas da cidade pra conseguir realizar seu sonho. Ela tem um pai alcóolatra e agressivo, então sonha deixar tudo isso pra trás. 

    No segundo filme, ela finalmente tá trabalhando na área, mas aparentemente não é tão boa quanto gostaria de ser. Isso não é mencionado em palavras no filme, mas, nas duas vezes que a gente vê cenas da peça, ela tá perdendo o timing de suas falas por distrações na plateia (sendo ausência ou presença do Peter). Suponho que isso não seja algo tão fora do comum, até pela frustração do assistente de direção gritando a fala pra ela ou o ator completando a fala no meio pra ajudar. Parecem todos empenhados em fazer a peça dar certo APESAR da Mary Jane. 

    Chegamos no terceiro filme e ela tá cantando num musical da Broadway, dizendo que quer fazer isso pelo resto da vida dela, mas recebe só críticas negativas e é substituída. Todo o trauma de uma vida sendo menosprezada pelo pai vem à tona, mais pessoas dizendo que ela não é boa o suficiente pra ter o que sempre desejou. Fica bem entendido que o sonho dela acabou ali. Mas ela não pode contar isso pro namorado good vibes coach dela porque ele não consegue se colocar no lugar dela no meio da euforia de ser amado por uma cidade inteira. "Está triste? É fácil resolver: só escolher ser feliz!"  
  
    No meio disso tudo, o Peter ainda se vê no direito de beijar mocinhas bonitas de ponta cabeça por aí apenas pela publicidade, totalmente alheio de que está destruindo algo que era único. Mary Jane também tentou replicar o beijo no segundo filme, mas o Peter tinha rejeitado ela e ela estava com o noivo. Foi uma tentativa de substituir, mas foi uma ação honesta. Já o Peter simplesmente achou de bom gosto beijar outra mulher na frente da namorada como se não fosse nada. E tudo isso SEM O SIMBIONTE, só pra deixar claro que isso é o Peter agindo, não é a gosma alienígena contaminando seus pensamentos. 

    O que ela faz então? Busca abrigo em um amigo. E o momento do filme que eu menos perdoo o Sam Raimi por ter escrito é esse. Não por ser ruim, pelo contrário, a cena do Harry e da MJ cozinhando juntos, rindo juntos, dançando juntos, é a cena mais romântica da trilogia. É um momento de despreocupação que o Peter e ela nunca tiveram. 

 
    Ela tem dois momentos de extrema felicidade nesse filme. 
    O primeiro é após sua estreia na Broadway, o que a gente sabe que não vai acontecer mais. 
    O segundo é com o Harry. 
   A parte revoltante é saber que não é uma cena relevante pra trama. Mary Jane não vai ter que se perguntar sobre os seus sentimentos, sobre o que realmente busca em um companheiro, porque no tempo entre ela sair do Harry e chegar em casa, o Harry recupera a memória e já está lá esperando ela chegar pra agredir e chantagear a coitada. São dois minutos, DOIS MINUTOS, entre a cena mais pacífica da história da Mary Jane e mais uma agressão de alguém que ela confiava. 

    Quinze minutos depois, é o Peter agredindo ela. Mais dez minutos e ela tá sequestrada OUTRA VEZ por um vilão querendo destruir o Peter. Homem-Aranha 3 escolhe a Mary Jane como saco de pancada e tira tudo dela em todas as cenas. E, por mais que o filme decida acabar com uma musiquinha feliz, é notável no rosto dela durante a última dança que ela ainda está totalmente dilacerada por dentro. Como os versos de "I'm Thru With Love" que ela canta "Eu tranquei meu coração/ Manterei meus sentimentos lá".

    Mas se o protagonista venceu os vilões e ainda ficou com a garota, tá tudo certo, né?
    Parabéns, Sam Raimi! 
 

   
    Já tirei minha revolta do peito, vamos voltar a falar do filme como um todo. 

    Sinto que os primeiros vestígios de um humor Marvel Studios começaram a nascer aqui. Muita piada, muito momento sério interrompido pra fazer graça. Nem digo que as piadas são ruins porque isso não seria verdade nem pro meu eu atual e nem pro meu eu de 12 anos que adorava a cena do J.J. Jameson tentando contratar uma criança como fotógrafa no meio da batalha final... Mas é necessário? Principalmente quando segundos antes estava um clima fúnebre com a possível morte do teioso e alguns segundos depois termos a morte de um dos protagonistas da franquia?  É realmente no meio desses dois momentos que uma piada MELHORA o filme? 

    Visualmente, eu gosto que tenta coisas novas, mas é o que pior envelheceu na trilogia. Todos os planos fechados de personagens digitais estão muito falsos e a quantidade de lutas do Homem-Aranha sem máscara não ajuda. O tom do filme é bem mais sombrio que os anteriores (justificavelmente) e funcionaria num filme melhor. Até mesmo a trilha do Christopher Young acompanha essa escuridão, com ele fazendo um ótimo trabalho em manter o som do Danny Elfman e entregar temas mais pesados para os novos personagens. 

 

          
    Pra finalizar, eu realmente gostaria de gostar mais desse filme. Ele funciona em entreter, mas, no momento que você começa a cavar fundo nele, você percebe que ele é bem raso e tem pouco a oferecer, principalmente em comparação direta com os anteriores. É triste que essa franquia tenha acabado aqui, acredito que o Raimi merecia a chance de fazer um quarto filme concluindo a história que começou. Considerando que (até o momento 😏) essa é a última vez que vemos essa versão dos personagens, é um final caído para uma ótima trilogia. Merece 5/10 aranhas douradas! 

 

     

    "Eu não vou morrer como um monstro!" - Otto Octavius
  

    Homem-Aranha 2 não é um filme que alguém simplesmente critica. Não é só considerado o melhor filme do aracnídeo, mas também é considerado o melhor filme de super-herói de todos os tempos por muitas pessoas. Como atingir esse patamar? Como fazer um filme tão infalível que continua conquistando gerações até hoje? 
  
    Só lembrando que esse texto está sendo escrito em preparação para o OITAVO filme solo do Homem-Aranha, No Way Home, que estreará no dia 16 de novembro no Brasil. Nada melhor do que rever e analisar todos os anteriores antes, até porque (dizem os rumores) todos os outros filmes terão sua devida importância nesse primeiro live action do multiverso
      
    Bora começar com a sinopse horrível do google:
   Quando uma falha na experiência de fusão nuclear resulta em uma explosão que mata sua esposa, o Dr. Otto Octavius é transformado em Dr. Octopus, um ciborgue com tentáculos de metal. Doc Ock culpa o Homem-Aranha pelo acidente e quer vingança. Enquanto isso, o alter ego do herói, Peter Parker, perde seus poderes. Para complicar as coisas, o seu melhor amigo odeia o Homem-Aranha e sua amada fica noiva.

 


  
    A gente começa não muito longe de onde o primeiro filme acaba. O que esse filme faz ainda melhor que o primeiro é manter a humanidade do Peter. Parker continua pobre, sem namorada, se esforçando para manter duas vidas totalmente contrárias em harmonia, sem sucesso. Perde um emprego nos primeiros minutos, mantem o seu segundo emprego ajudando a se difamar no Clarim Diário, com mentiras feitas para vender jornal. Nada funciona para ele. Falhando em estudos, decepcionando suas amizades, vendo sua tia se afundar em dívidas e se preocupando com o bem estar de uma cidade. Por que será que entrou em crise, não é mesmo?

    É então que entra Otto Octavius, cientista pronto pra mudar o mundo com energia renovável. Infelizmente, o plano falha e os braços mecânicos que ele instalou em si mesmo para auxiliar no projeto assumem o controle do seu cérebro. Agora Dr. Octopus quer concluir seu projeto de maneira bem mais ambiciosa que antes.

 

   

    Mas vamos falar sobre os personagens retornantes. Mary Jane, após se declarar pro Peter no filme passado, aqui já está pronta pra casar... com outro cara. Harry, por sua vez, só tem duas características nesse filme: é rico e odeia o Homem-Aranha. Se não tá falando de dinheiro, tá falando de como vai se vingar pela morte do pai. Tia May, por algum motivo, agora também odeia o Homem-Aranha. Eu realmente não lembro se o primeiro filme dá motivos para isso, até porque ela sabe que o Peter "conhece" ele, né? Mistérios da vida. Deve ter caído em fake news do Clarim. Era mais fácil odiar o Peter por largar ela no banco e sair correndo quando um monstro de garras metálicas aparece.

    Peter percebe que seus poderes não funcionam como antigamente. Após uma breve consulta médica e uma experiência quase "espiritual" com o tio... Ok, vamos parar aqui um pouco. Eu honestamente não entendo essa cena. É uma conversa do Peter decidindo não ser mais o Homem-Aranha e, no psicológico dele, ele sente essa pressão do Tio Ben pra ser um herói, pra carregar essa responsabilidade pra sempre... É a segunda vez na franquia que o Peter destrata o tio no mesmo carro, nega até apertar a mão dele e não tem um payoff, não tem um retorno onde ele conserta a situação. Parece tão aleatório trazer o Tio Ben de volta só pra se decepcionar outra vez. Talvez se perto do final ele pudesse conversar de novo com o tio e dizer que ele tava certo, sei lá. Enfim, Peter desiste de ser o Homem-Aranha. 

    Uma das maiores provas de que o trunfo desses filmes não é o herói e sim o homem por trás são as cenas do Peter sem poderes. Elas são extremamente confortáveis. Em momento nenhum você fica ansioso pelo retorno das cenas de ação, você só fica feliz pelo Peter ter a paz merecida, mesmo que ela dure pouquíssimo tempo. Toda a montagem do Peter vivendo sua vida sem o peso de NY inteira nas costas enquanto Raindrops Keep Fallin' On My Head toca é, talvez, a minha cena favorita do filme.

 
    

    Mas, como nada são flores na vida desse cara e essa ainda é uma história mais de perdas do que de vitórias, outra vez Peter se vê forçado a assumir o manto vermelho e azul para salvar Mary Jane e NY. A cena da luta no trem continua tão maravilhosa quanto da primeira vez que eu assisti. A qualidade dos efeitos visuais é impecável, a trilha sonora do Danny Elfman não tem um defeito sequer, a fotografia do Bill Pope é deslumbrante e eu poderia passar o dia aqui encontrando adjetivos pra elogiar toda a equipe técnica desse filme.

    Um ponto interessante no primeiro e no segundo filme é que a cidade é uma ótima coadjuvante pro Aranha. Os moradores da cidade realmente se importam com o herói e estão prontos pra ajudar no que puderem. A cena deles ajudando o Peter no trem, protegendo o segredo dele, entrando na frente do Octopus para defender o teioso, tudo isso é só motivo pro Peter continuar lutando. 

 

     
    Otto Octavius é um vilão muito bom de assistir. Além dele ser um adversário físico bem melhor, ele ainda tem uma conexão muito forte com o Peter. Em momento algum é só Homem-Aranha contra Octopus, é sempre Peter Parker contra um de seus heróis pessoais, inclusive no momento da redenção. É muito gratificante saber que o Homem-Aranha sozinho não venceria aquela briga. Quem "vence" é o Peter por realmente se importar com outro ser humano, mesmo depois de todo o mal que ele lhe causou. Octopus se sacrifica pelo bem da cidade, Peter finalmente revela para Mary Jane quem é e os dois ficam juntos, prontos pra enfrentar os próximos obstáculos. 

    O que esse filme faz (que é muito difícil de repetir) é a dose balanceada IGUALMENTE de humanidade e aventura. Quando a história acaba, a gente sabe que o mundo precisa de um Peter Parker tanto quanto precisa do Homem-Aranha. Os dois personagens funcionam e interagem com o mundo ao seu redor de maneira individual, com os demais tendo opiniões diferentes sobre cada, o que torna tudo mais dinâmico e, muitas vezes, sofrido para quem assiste. É triste para o Peter saber que o segredo que ele protege do Harry é o motivo dele odiar o Aranha, mesmo que o Harry esteja insuportável nesse filme. 

    No fim, o que a gente tem é uma aula de como fazer personagens fantásticos serem realistas e emocionalmente humanos. É uma pena saber que o próximo filme não entende tão bem essa situação toda. No momento, só me resta dar 10 aranhas douradas pra esse filme!! Merecidamente, o único filme dos sete que vai ter essa nota!

  


                
    "Com grandes poderes, vem grandes responsabilidades"
- Ben Parker
                     

    Com a chegada de Sem Volta Para Casa, o terceiro filme solo do Aranha do MCU, que promete (sem prometer de verdade) unir três gerações do aracnídeo, pensei que era uma boa hora de rever os filmes antigos e reparar o quanto eles sobreviveram (ou não) ao tempo. Será que temos vários vinhos engarrafados com cuidado ou só um montão de leite aberto? Acredito que teremos uma boa cota dos dois.

    Para começar, cada título terá um número, identificando os sete filmes que, até o momento, já foram lançados. Mas, sem mais delongas, vamos falar do primeiro filme do Homem-Aranha, dirigido por Sam Raimi e lançado em 2002. 

  


                           
    Começando com a sinopse, pra não perder o hábito:
    Depois de ser picado por uma aranha geneticamente modificada em uma demonstração científica, o jovem nerd Peter Parker ganha superpoderes. Inicialmente, ele pretende usá-los para para ganhar dinheiro, adotando o nome de Homem-Aranha e se apresentando em lutas de exibição. Porém, ao presenciar o assassinando de seu tio Ben e sentir-se culpado, Peter decide não mais usar seus poderes para proveito próprio e sim para enfrentar o mal, tendo como seu primeiro grande desafio o psicótico Duende Verde.


    Quero já começar dizendo que admiro como o filme não perde tempo. Considerando que, em 2002, não existia uma fórmula ou um modo correto de fazer esses filmes (o mais próximo disso até então era o X-Men do Bryan Singer e a fórmula do MCU estava há décadas de ser implementada), é surpreendente o quão rápido ele entra no ritmo e o quão fielmente se mantem nesse ritmo até os créditos finais. Se tirarmos os três minutos iniciais de créditos, nós temos apenas sete minutos de Peter Parker sendo um jovem normal. E que sete minutos fenomenais são esses. A empatia é imediata: vemos ele correndo pra pegar um ônibus (quem nunca?), sofrendo um pouco de bullying (quem nunca?²), apaixonado sem coragem de se declarar (quem nunca?³), ele é a perfeita representação de alguém que todo mundo já foi uma hora ou outra na vida. 


    E aí ele é picado por uma aranha mutante e tudo muda... Ou não muda? A verdade é que essa é a chave para o sucesso desse primeiro filme. Nada muda. Sim, ele tem habilidades incríveis agora... Mas continua correndo pra pegar o ônibus, sofrendo bullying e sem coragem de se declarar pra quem ama. Os poderes não mudam quem ele é, só adicionam mais uma camada de complicações na história. É instantaneamente cativante e evidencia ainda mais onde erra o aranha do... ops, me precipitando, não é mesmo? Ainda estamos começando a jornada! Cada aranha na sua teia...


 


                                 

    Ao mesmo tempo que Peter é introduzido, todos os personagens que serão relevantes para o filme são apresentados nos primeiros dez minutos. Temos o melhor amigo, o interesse romântico, o vilão, a família do herói, todos com histórias extremamente interligadas para facilitar os encontros necessários. Peter é apaixonado por Mary Jane, que foi vizinha dele e dos tios a vida toda, mas que agora namora o melhor amigo de Peter, Harry Osborn, filho de Norman Osborn que se torna o Duende Verde em 17 minutos de filme. É uma aula de como ganhar tempo em roteiro. 


    Não é explicito o tanto de tempo que o filme abrange, mas acredito que o roteiro seja quase um aluno da Escola Harry Potter de Resumir 1 Ano em Duas Horas. Em 30min de filme, já vemos os tios de Peter preocupados pois faz muito tempo que ele não tá sendo ele mesmo. Em 50min, ele já se forma no colegial. Em 1 hora, ele já arranjou um emprego com o Dr. Curt Connors, perdeu esse emprego por atrasar várias vezes, já está procurando outro trabalho. Em 1h17m, ele já construiu uma ótima reputação como Homem-Aranha e já teve essa reputação destruída pelo Clarim Diário. Resumindo, o filme é abrangente. Ainda assim, não parece apressado, parece apenas levar a história pra onde ela precisa ir.


    O crescimento do protagonista é notável. Vemos um jovem que nunca pôde tomar uma decisão egoísta. Na primeira que tomou, movido por uma frustração imensa, perdeu a única figura paterna que já teve. Depois disso, passa o filme abrindo mão da sua própria vida pelo bem dos outros. 


  


                                     
    É importante falar disso aqui, principalmente pelo contraste com as demais versões do personagem, mas esse Peter é um Peter que não vence. Quando ele tá sofrendo nas mãos dos outros alunos da escola, ele é só uma piada. No momento que ganha o poder de reagir, ele é visto como um monstro. Ele não ganha dinheiro para ser o Homem-Aranha, então precisa trabalhar, mas não consegue trabalhar bem por ser um herói nas horas livres. O tio morreu, a tia foi atacada por descobrirem quem ele é. A namorada foi sequestrada pelo mesmo motivo. Apesar do filme acabar num passeio triunfante do Homem-Aranha pelos arranha-céus de NY, seu alter ego não acompanha esse sucesso. Peter Parker acaba o filme com um segredo pesadíssimo nas costas, desempregado, sem a mulher que ele ama, escondendo o segredo do Norman pelo bem do Harry e sabendo o ódio que o melhor amigo carrega de sua outra metade. É exaustivo ser o Homem-Aranha, mas com grandes poderes vem grandes responsabilidades.  


    Outros dois elementos interferem diretamente na qualidade de um filme do octópode (sério, não sei mais do que chamar o Homem-Aranha pra não ficar tão repetitivo, me perdoem): vilão e par romântico. 


    Nesse filme, temos um vilão icônico por diversos motivos. Sua presença é igualmente forte e intimidadora antes e depois de se tornar o Duende Verde. Que trabalho maravilhoso de Willem Dafoe. Norman Osborn é um pai exigente que parede demonstrar pouco o amor que sente pelo filho. Está trabalhando a vida toda em um projeto que é descartado como lixo, é tirado do poder de sua própria empresa e vê no Aranha o único obstáculo para que consiga tudo que quer. O que ele quer? Após destruir o conselho da sua empresa, não existe nenhuma outra motivação clara. É dito "poder além da imaginação", mas é algo genérico demais para poder ser preocupante. A gente releva, mas tira ponto no final! 


 


                                 
    A maior falha na construção do personagem é na dualidade entre o Duende e o Norman. Em um momento estamos vendo os dois conversarem entre si, discutindo objetivos e métodos com opiniões contrárias, duas pessoas totalmente diferentes, mas essa é a única cena em que isso acontece. Se a intenção era tratar o Duende como uma entidade separada do Norman, como se apenas um assumisse o controle por vez, não não faz sentido o tanto de cenas que eles intercalam sem esforço, principalmente na cena de ação de graças ou na última tentativa de manipular o Peter no final. Parece que o filme tem uma ideia e desiste dela logo em seguida. Ainda assim, um grande vilão e uma ameaça física e psicológica real.


    No quesito par romântico, eu sempre tive muitos problemas com Mary Jane Watson. Talvez eu goste mais dela hoje do que jamais gostei antes, mas sinto que ela amou o Homem-Aranha antes de amar o Peter, ainda que na última cena do filme ela diga o contrário. Existem muitas atitudes manipuladoras. Ela sabe desde o começo o quanto o Peter gosta dela. Ela praticamente tenta manipular ele a se declarar enquanto tá indo jantar com o Harry. Acho que existem muitas linhas curvas na personagem como par romântico. Como pessoa, gosto que ela seja uma sonhadora, gosto que ela não aceita desaforo, gosto que ela sinta que é livre o suficiente pra fazer o que quer e dar uns pegas em quatro caras diferentes (até onde ela sabe) num só filme. Bem diferente de como a mocinha é vista na maioria dos filmes de herói. Mary Jane tem as falhas dela, e só por não ser perfeita já é melhor que a maioria.


    Eu quero muito focar apenas em critérios humanos, até porque meu ponto aqui é a evolução e transformação da história durante vinte anos. Mesmo assim, seria insano demais não falar um pouquinho da parte técnica. Visualmente, o filme sobreviveu muito bem ao tempo. Até as cenas mais explicitamente geradas por computação gráfica não causam estranheza aos olhos. Fiquei bem surpreso com a qualidade. Dá pra perceber que tudo foi feito com o cuidado máximo que merecia. É importante dizer isso aqui porque eu sei que no futuro isso não vai se manter verdade. 
   

    Ah, e palmas para Danny Elfman, que entregou uma trilha tão maravilhosa que até hoje é instantaneamente reconhecível. 
 


                            

    "Não importa o que eu faça, não importa o quanto eu me esforce, aqueles que eu amo sempre irão pagar"

    Com essa frase, dita por Peter no final do filme, eu concluo meus pensamentos sobre Homem-Aranha (2002). Isso é o que resume o personagem. É necessário risco, é necessário perda e é necessário esperança. É a história de um herói fazendo tudo que pode pra manter todos a salvo acima de suas vontades ou de seu próprio bem estar. Sinto que isso se perde em alguns filmes do Aranha, mas, como eu disse antes, eu não vou me precipitar. Falaremos deles na hora certa!


    Esse filme merece 8/10 aranhas douradas! 
              


Jennifer Lopez é uma das atrizes mais carismáticas que eu já vi na grande tela. Existe algo extremamente cativante em assistir sua atuação. Não é talento, porque ela não é tão boa assim. Me parece algo que nasceu com ela e vai morrer com ela. E eu devo deixar claro logo de cara que é, sim, suficiente para manter o filme pelo menos interessante até o final... mas de resto, não há nada a oferecer. Uma Nova Chance (Second Act, 2018) é simplesmente esquecível.

"Maya (Jennifer Lopez) está insatisfeita com sua vida profissional. Porém, tudo muda com uma pequena alteração em seu currículo e suas redes sociais. Com sua experiência das ruas, habilidades excepcionais e a ajuda de seus amigos, ela se reinventa e se torna uma executiva de sucesso."


Gostaria de começar dizendo que todos os responsáveis por esse filme estão de parabéns. Peter Segal (diretor de "Como Se Fosse a Primeira Vez" e "Agente 86") não é um grande nome de Hollywood, e, se depender desse filme, nunca vai ser. Todas as piores escolhas diretoriais foram feitas. Se a câmera não está diretamente na Jennifer Lopez e deixando ela cativar o público, está filmando algo totalmente desnecessário e vergonhoso. Elaine Goldsmith-Thomas (em seu primeiro trabalho de roteirista) e Justin Zackham (roteirista de "Antes de Partir") são também extremamente culpados por escreverem personagens sem qualquer profundidade ou realismo... e ainda socando um plot twist desnecessário no meio da nossa garganta. 

Eu gostaria inclusive de pedir desculpas para as pessoas que viram o filme comigo no cinema por cada "não, não é possível" que eu fui obrigado a falar em voz alta. Geralmente eu sou expectador silencioso, mas nem sempre eu consigo ficar quieto.

Pessoas andando triunfalmente e caindo logo depois, pessoas mentindo que sabem fazer algo e depois sendo forçadas a fazer esse mesmo algo segundos depois... onde ela SEMPRE pode negar... mas qual seria a graça né? HA HA HA... Hilário. Não tem nenhuma porta da comédia que esse filme não ultrapassou. Ganha pontos por não ter piadas com peidos (o ápice da comédia americana), apesar de ter uma piada péssima com fezes de gato. 


O elenco todo parece ter sido forçado a fazer esse filme. Leah Remini faz o melhor com a personagem sidekick cuja unica função e sonho é ajudar a amiga a se dar bem. Desejos próprios? Jamais. Quem tem tempo para isso num filme sobre alcançar seus sonhos? Tem bons momentos, mas sempre com uma âncora amarrada no pé e puxando pra baixo. E ainda tem a coitadinha da Vanessa Hudgens, que tem apenas uma boa cena no filme todo... E depois é puxada para o PIOR PLOT TWIST DA HISTÓRIA. O resto nem merece ser mencionado aqui.

O filme tem boas cenas no nível corporativo. Boa parte da trama é focada nos protagonistas tentando criar um novo produto de beleza totalmente natural, sem qualquer química. Para alguém que estudou publicidade, como eu, essas cenas pelo menos servem como distração de toda as mancadas ao redor. Eles acertam bastante do que seria necessário, empresarialmente, para desenvolver um novo produto. Inclusive, as cenas de pesquisa e abordagem de pedestres nas ruas foram bem "reais". E eu acho que os elogios a esse filme acabam aqui.


Ao chegarmos ao final do filme, a mensagem é positiva, mas não pelos meios certos. A ideia de "seja quem você é, não importa o que os outros pensam" é ótima... Mas a personagem tirou muito proveito das suas mentiras e mudou sua vida através delas, mesmo tendo o obvio arco do arrependimento no final. Então até a mensagem é torta.

Jennifer Lopez é realmente carismática. Eu comecei dizendo isso e vou ter que terminar dizendo a mesma coisa. O lado crítico fala mais alto quando você para pra analisar o filme, mas é necessário dizer que, durante a sessão, Lopez é boa o suficiente para não fazer você levantar e ir embora diante de tanto absurdo. O filme tá destinado a sessões da tarde ou ser mais um filme perdido no catalogo da Netflix. 

Eu recomendo que esperem isso acontecer e não gastem seus dinheiros. Uma estrela por caridade à Jennifer Lopez, que tira leite de pedra nesse filme.  



Já assistiu UMA NOVA CHANCE? Gostou? Odiou?
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Jogos Mortais encontra Jumanji nesse novo suspense do diretor Adam Robitel, o mesmo de Sobrenatural: A Ultima Chave (Insidious: The Last Key, 2018). E, do mesmo jeito que A Última Chave foi filmado em 2016 para um lançamento em 2018, ESCAPE ROOM foi filmado em 2017 para conseguir, finalmente, um lançamento em 2019. É engraçado pensar que a próxima sensação do momento pode estar pronta e engavetada em algum canto de uma grande distribuidora, só esperando uma boa janela de lançamento...

O filme custou míseros U$9 milhões e já está na casa dos U$110 milhões em arrecadação. Com isso podemos ter certeza que "Escape Room: O Retorno", "Escape Room: Sem Escapatória" e "Escape Room: O Início" devem estar confirmados. Então vamos aproveitar que ainda não estragaram essa franquia milionária...

"Seis estranhos acabam sendo misteriosamente convidados para um experimento inusitado: trancados em uma imersiva sala enigmática cheia de armadilhas, eles ganharão 10 mil dólares caso consigam sair. Mas quando percebem que os perigos são mais letais do que imaginavam, precisam agir rápido para desvendar as pistas que lhes são dadas."


Escape Room não é um filme completamente original em conceito. Existem dezenas de dezenas de filmes onde estranhos que compartilham um passado em comum (geralmente alguma desgraça) são forçados a tentarem sobreviver juntos. A diferença está na leveza com que eles levam o conceito. Enquanto em qualquer um Jogos Mortais, os participantes sabem imediatamente o perigo que estão correndo e o desespero corre solto, em Escape Room parte da adrenalina está em o público ser o único que sabe o verdadeiro risco que os personagens estão correndo. Enquanto pra eles é tudo um jogo que eles querem resolver com pressa, nós estamos carregados pela tensão. É por isso que o primeiro ato do filme é tão interessante. Mas não fica sempre assim...

O elenco é formado principalmente por rostos desconhecidos do grande público. A mais conhecida é Deborah Ann Woll, a Karen Page, das séries da Marvel (Daredevil e Punisher). Todos do elenco tem seus bons e maus momentos, mas nada que distraia da história. Alguns terão um futuro melhor no cinema que outros... mas todos seguirão sendo bons atores de séries de TV. 

Um dos principais problemas do filme é que, a cada obstáculo que é superado, a história fica um pouquinho mais repetitiva e obvia. Existe sempre uma porta, um número para encontrar, uma chave escondida... Isso é feito para que fique o mais perto possível de uma Sala de Fuga real... mas, cinematograficamente, o conceito se desgasta muito rapidamente. Não querendo me repetir, mas Jogos Mortais sempre fez questão de que cada desafio apresentasse uma solução e um risco completamente diferente... O risco em Escape Room é sempre o tempo. Um segundo perdido e todos podem morrer... 


A parte dramática do filme se baseia em quão próximas as histórias dos protagonistas são. Todos tem algo que os conecta. Mas isso, mais uma vez, traz junto um problema: malditos flashbacks. Enquanto a ação ta ininterrupta na Sala de Fuga, as vezes temos cortes bruscos para o passado dos personagens, para que comecemos a juntar as peças da trama... E isso acaba com o ritmo. A emoção vai embora. Não são cenas longas, mas nos tiram do clima de tensão que estávamos. A história deles é importante para certas soluções, mas existe uma cena onde tudo se explica. Se eles tivessem guardado todos os flashbacks pra essa única cena que deixasse o público voltar o filme mentalmente e encaixar as peças... Talvez tivéssemos um resultado melhor.

Para sair de algumas salas, eles necessitam das experiências passadas de personagens específicos... o que faz o roteiro parecer mais oportunista do que realmente é. A gente sabe que, se tal personagem tivesse morrido na sala anterior, eles não passariam da sala seguinte... e sabemos também que isso não ia acontecer. Então essa conveniência prejudica um pouco a história também. 

E se for pra falar do maior problema do filme, temos que falar do maior problema do gênero também. NINGUÉM SE IMPORTA COM QUEM MORRE. O filme tem 1h30 de duração, que é o padrão do gênero e pouquíssimo tempo é gasto desenvolvendo personagens. De verdade, antes dos seis personagens se unirem na Sala de Fuga, nós apenas conhecemos a "história" de três deles... de maneira super rasa ainda. Isso faz com que a morte de um personagem seja apenas o empecilho momentâneo entre uma cena de tensão e outra. É por isso que filmes como Invocação do Mal ou IT - A Coisa fizeram tanto sucesso com público e crítica: souberam usar o tempo para criar momentos genuínos e humanos em personagens prestes a sofrerem. Quando eu penso nesses filmes, é desses momentos que eu lembro. É Ed Warren cantando Elvis para a família amaldiçoada, é as crianças brincando no lago em IT... Enquanto o gênero focar mais em mortes criativas que em contar a história dessas pessoas, a carga emocional vai continuar zero.  


O filme podia ser mais corajoso em o que mostrar? Com certeza. Sua classificação para maiores de 14 anos faz com que as mortes sejam sempre bem limpas... e o gore (com bastante sangue esguichando) geralmente ajuda a distrair de certos problemas desse tipo de filme. Sem isso, é necessário que o roteirista realmente trabalhe.

Mas vamos falar das coisas boas também. Estávamos há um tempo órfãos desse tipo de filme, onde a sobrevivência depende apenas da inteligente e capacidade de adaptação dos personagens. Escape Room diverte, intriga e nos deixa tensos esperando a próxima armadilha. As reviravoltas do filme são guardadas para o final e são ótimas... poderiam ser melhores, mas são ótimas. E existe uma ótima abertura para as sequências antes mencionadas. O problema vai ser manter original um conceito que já acaba bem menos original do que começa.

Escape Room é o primeiro filme de terror do ano que realmente me entreteve. Semana que vem temos a sequência de A Morte te dá Parabéns... e eu confesso que esse eu já amo antes mesmo de assistir. Mas se o dinheiro estiver sobrando e uma diversão entre amigos for o objetivo, Escape Room é mais do que satisfatório. 


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E vocês achando que é a sequência de Avatar que tá demorando demais. HA HA HA!
Glass é praticamente o trabalho da vida de M. Night Shyamalan, que já dizia ter intenções para uma trilogia no ano 2000, quando Corpo Fechado (Unbreakable, 2000) foi lançado pela primeira vez nos cinemas! Então há de se entender a expectativa de muitos fãs do diretor por essa épica conclusão de sua franquia... e, como não há nenhuma indicação no título de que é uma sequência, há de se entender que muita gente vai ver o filme sem saber dos anteriores e sairão reclamando da sessão! 

A verdade é que o filme tem, sim, seus problemas, mas o resultado é nostalgia o suficiente para que os fãs pirem enquanto assistem e, talvez, deixem de lado alguns problemas de roteiro. 

Após a conclusão de Fragmentado (2017), Kevin Crumb (James McAvoy), o homem com 24 personalidades diferentes, passa a ser perseguido por David Dunn (Bruce Willis), o herói de Corpo Fechado (2000). O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price (Samuel L. Jackson), que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois.

Não preciso vir dizer o quão obrigatório é ter visto os dois outros filmes para realmente apreciar esse, correto? Então vamos em frente! A partir daqui, sem spoilers do filme! 


A história começa algumas semanas depois de Fragmentado (Split, 2017) acabar. David, interpretado novamente pelo Bruce Willis, ainda está na missão de se livrar de pessoas ruins uma por vez, mas sem foco em grandes crimes... Com desejo de fazer mais, mas com certas dúvidas. Alias, dúvida é o tema do filme. Toda a trama é baseada em como o ser humano lida com o conhecimento do que pode fazer. O Overseer (nome de herói que David ganha, traduzido como Vigilante) tem interesse em descobrir quem é responsável pelos sequestros recentes de garotas...

Quem assistiu Split sabe que o único responsável possível é A Horda, as 24 personalidades diferentes dentro do corpo de Kevin Wendell Crumb (James McAvoy). E é então que a batalha está formada.. Mas não vai ser simples chegar até o confronto final desses dois personagens que demoraram 19 anos para cruzarem seus caminhos! 

E, com planos muito maiores para esses personagens do que eles poderiam imaginar, está Elijah (Samuel L. Jackson), ou Mr. Glass, que ficou preso em um hospital psiquiátrico por todos esses anos, mas ainda tem algumas cartas guardadas na manga. Como é bom saber que um crossover desses existe sem qualquer necessidade. Corpo Fechado e Fragmentado (tirando a última cena) funcionam muito bem sem ser necessário um crossover. O fato das histórias se unirem simplesmente porque PODEM se unir é maravilhoso demais para ignorar. Nem tudo merece crossovers e spin-offs... mas enquanto for movido por vontade criativa acima de interesse financeiro, pode vir!!


Vamos falar sobre esse elenco fantástico! Todos os protagonistas desse filme estão no topo do seu jogo! McAvoy é uma força da natureza mais uma vez e o diretor dá todas as chances da terra para que ele brilhe. As longas tomadas com a câmera girando e ele trocando de personalidade são algumas das cenas mais incríveis de se assistir. Se em Fragmentado tivemos a chance de conhecer 8 personalidades, em Glass ele interpreta 20 delas. É o tipo de atuação que não se vê todo dia e está ainda melhor do que estava no longa anterior. Parece que McAvoy teve, finalmente, anos para conhecer cada uma das personalidades o suficiente para se tornar intimo. Se tem um aspecto desse filme que é a prova de falhas é a atuação de James McAvoy. Deve ser ótimo trabalhar com um ator tão pronto para dar seu máximo.

O núcleo Corpo Fechado também está incrível. 

Bruce Willis revive facilmente o papel do vigilante da capa de chuva. Ele não tem grandes chances de mostrar atuação, como seus colegas de elenco, mas ele é sempre Bruce Willis. A presença de tela dele é enorme e a ironia que ele tem no olhar realça muito algumas cenas bem simples, como quando os três protagonistas estão na mesma sala juntos pela primeira vez. 

Mas Samuel. L. Jackson é o centro desse filme. Não é a toa que cada título de filme foi focado em um personagem. L. Jackson não tem que provar para ninguém o quão bom ator ele é, mas mesmo assim é como se ele abraçasse tanto cada nuance do Mr. Glass que é fascinante assistir. É a atuação mais real entre os três protagonistas. Enquanto McAvoy está em seu Tour de Force e Willis está mais simplificado, Samuel L. Jackson está levando o filme em frente.


Nos coadjuvantes, temos dois grupos. Os que voltaram, como se tudo estivesse desde sempre planejado, para essa sequência (mesmo depois de 19 anos)... e a novata! 

O filho de David (Spencer Treat Clark), a mãe de Elijah (Charlayne Woodard) e Casey, a garota imperfeita que foi poupada (Anya Taylor-Joy), todos voltam para seus papeis originais! O filme definitivamente não é focado neles, apesar de todos terem seus momentos no holofote. Anya Taylor-Joy é a mais relevante para a trama e utiliza muito bem suas cenas com McAvoy. O futuro dessa garota é brilhante no cinema, apesar de estar demorando um pouco mais do que eu imaginei para o reconhecimento vir, já que estou falando exatamente isso desde que vi A Bruxa (The VVitch, 2015) no cinema. 

Mas é a novata que realmente adiciona nesse elenco como eu não consigo imaginar outra no lugar. Sarah Paulson, que um dia ainda será muito mais reconhecida do que é hoje, domina suas cenas como Dra. Ellie Staple como ninguém poderia. A personagem dela tem a vantagem de ser praticamente uma indireta para todos os mais críticos de Fragmentado, que esperavam um filme sobre psicologia e não um filme de origem de monstro. Ela passa o filme tentando nos convencer de que tudo que vimos nos dois filmes anteriores é explicável... Ao ponto de fazer até o expectador suspeitar de quem realmente tá falando a verdade. 


M. Night Shyamalan simplesmente encontrou seu estilo de novo! A sua maneira de escrever e dirigir, de entender seus personagens e tirar o melhor deles... Esse filme grita Shyamalan! Existem certos aspectos dele que poderiam ser melhor explorados? Com certeza! Cenas em que o "o que acontece" está correto, mas o "como acontece" é bem forçado. Mas acho que isso é sintoma da confiança que Shyamalan tem em si mesmo de novo. Ele fez o filme que ele quis fazer, do jeito dele, e pagou inteiramente do próprio bolso o orçamento de 20 Milhões de Dólares, inclusive usando a própria casa de garantia (de acordo com a revista Forbes). 

O filme pode não ser perfeito, mas é um imperfeito tão autoconsciente que é fácil relevar certas coisas. Vidro responde à críticas de Fragmentado, tem diversas revelações muito bem preparadas, tem um elenco de peso extremamente dedicado... Os aspectos técnicos não ficam para trás. O uso de cores é extremamente inteligente, a fotografia é tão linda que as vezes distrai. É tudo muito Shyamalan. 

"Muito Shyamalan". Tem gente que vai considerar isso uma ofensa. Mas o que Vidro faz é pegar tudo que tinha de bom nos dois filmes anteriores e mesclar quase uma cartã de amor aos fãs que esperaram, sem saber, que uma trilogia de 20 anos acabasse. Tem referências ótimas, tem momentos de extrema tensão, tem momentos leves e (alguns) engraçados... Vai depender do quão aberto você está para curtir o filme. Shyamalan praticamente olha em seus olhos e diz "vai ser absurdo, sim". Dá pra sentir que ele ama cada momento desse filme. É na hora de explorar o intimo de cada personagem que ele brilha, e não nas cenas de ação e confronto. 


A mensagem é clara: Acredite em seu potencial, mesmo quando todo mundo vier provar pra você que ele não existe. Shyamalan vai precisar acreditar bastante nessa mensagem nos próximos anos, já que Glass não está sendo tão bem recebido quanto merecia. A verdade é que ele financiou o seu filme justamente para ter controle criativo total. E fez ótimo uso desse controle. Prefiro ver um filme livre assim do que um filme ótimo dentro dos padrões, limitado, só para agradar todo mundo. 

Shyamalan é e sempre foi um diretor que divide opiniões. Nem Sexto Sentido (Sixth  Sense, 1999) foi aclamado como deveria ter sido. Não é Vidro (Glass, 2019), o seu capitulo final ambicioso de uma trilogia sobre heróis, que vai conseguir esse feito. Mas, gostando ou não, é sempre bom formar essa opinião assistindo e não levar a sério apenas números e estrelas em sites de críticas...
Afinal, nada é mais gostoso do que assistir a um filme divisivo! 



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Já faz muito tempo! A última vez que publiquei algo nesse blog foi em 2016 e foi uma crítica a BATMAN v. SUPERMAN. Três anos depois, eu procurava algo que me fizesse sair da aposentadoria. E então veio Bird Box, o mais novo fenômeno da Netflix... Bom, pode ser uma boa ideia... mas antes eu preciso ler o livro. E ver o filme... e fazer um SUPER POST COMPARAÇÃO! E aqui estamos!!

Eu terminei de ler o livro HOJE. Eu terminei de assistir ao filme NESSE MOMENTO! Então, não querendo alimentar meu próprio ego, mas acho que sou a pessoa mais preparada para falar sobre Bird Box que existe!
   
"Ah, mas tem o autor do livro..." 
NÃO, SOU EU AINDA!

"E o roteirista do filme?" 
Se ele tivesse lido o livro, eu nem ia precisar fazer textão!

Conclusão: Eu ainda sou o mais preparado!

Então vamos ao que importa:

O FILME

Vamos falar um pouco das partes que o filme acertou e errou! Deixaremos pra falar da adaptação um pouco mais tarde. O longa, dirigido por Susanne Bier (que também foi responsável por uma das minhas minisséries favoritas dos últimos anos, The Night Manager), tem bastante cuidado na hora de transitar entre os diferentes tempos e climas da história. Poderia ter sido mais escuro em tonalidade e mais pesado para um público adulto. Falando de um filme sobre pessoas que precisam da escuridão para sobreviverem, ele, ainda assim, é extremamente claro. 

O elenco é um grande acerto em todas as partes. Sandra Bullock (ganhadora do Oscar por Um Sonho Possível) talvez seja a menos dedicada. O filme dá todas as chances pra ela mostrar suas habilidades de atuação, mas elas não são aproveitadas. O que falta em atuação, ela compensa em carisma. Sandra Bullock nunca foi conhecida como ótima atriz, mas é simplesmente cativante de assistir. Sua atuação só não é o bastante quando comparada com outros atores em cena, muito mais interessados.

Sarah Paulson simplesmente domina o filme em suas poucas cenas! É muito claro que estamos vendo uma futura Oscar Winner. Pode não ser nessa década, mas dos anos 20 não passa! John Malkovich e Jacki Weaver brilham em seus papeis, apesar de terem pouquíssimo para trabalhar... principalmente Weaver. Trevante Rhodes é o ator que mais aproveita as muitas chances que tem. Se antes era apenas o ator de Moonlight (filme ganhador do Oscar de 2017), agora ele é um astro de blockbuster e podemos esperar muitos filmes nos próximos anos.
  











Esse filme sofre muito por ter sido lançado no mesmo ano que Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, estrelando John Krasinski e Emily Blunt). O que Um Lugar Silencioso soube fazer magnificamente bem é criar uma atmosfera de perigo até para quem só assistia. No cinema (e posso dizer isso depois de ter pago três vezes para assistir) até os grupos que geralmente conversam no fundo faziam completo silêncio. Apesar da atmosfera de terror ser bem real para os personagens de BIRD BOX, essa atmosfera não nos é passada de volta. 

Temos um bom filme, divertido, que poderia ser muito mais pesado e doloroso de assistir... mas que oferece o famoso "entretenimento na medida certa". Só consigo imaginar como a repercussão seria se o filme fosse um pouco mais gráfico. Isso faria as pessoas gostarem mais do filme ou faria ele ser ignorado como outros ótimos filmes já foram? Será que a formula para um sucesso extraordinário está em não ir longe demais?

LIVRO vs. FILME 


Ok. Aqui a coisa complica. SPOILERS ESTÃO VINDO!!

Já gostaria de começar dizendo que são artes completamente diferentes. Nem tudo que está num livro deveria ir para o filme, nem teríamos tempo para isso! Mas como o filme inventa muita coisa que nunca esteve no livro, eles tinham tempo para tentar serem mais fieis. O livro foi o primeiro escrito por Josh Malerman, e é um romance de estreia muito melhor do que a maioria dos autores pode se orgulhar. 

O maior acerto do livro é a criação da atmosfera, que eu estava falando antes. O livro cria um mundo tão tenebroso e violento que você gostaria de ler vendado! E isso não acaba hora nenhuma. Até quando Malorie está em segurança no retiro, ela tem medo do que pode acontecer. Então todas as vezes que os personagens do filme tiravam as vendas por qualquer motivo que fosse, era muito irritante. Qualquer ambiente ligeiramente fechado já era motivo para tirarem as vendas. No livro, o único lugar seguro para tirar as vendas era a casa, extremamente mais escura e bem menor do que a desse filme. 

O sentimento de claustrofobia em ficar trancado num ambiente pequeno demais para muita gente, com pouca comida e água, enquanto criaturas estão a espreita do lado de fora... esse sentimento não está na adaptação da Netflix. Alguns dos momentos mais tensos do livro são com a Malorie esperando Tom, a única pessoa em quem ela realmente confia, que está fora de casa enquanto ela imagina os mais diversos cenários onde tudo dá errado. É quando a paranoia bate nela e no leitor. Tudo é uma ameaça, inclusive as pessoas da casa, aquelas com quem ela está trancada 24hrs por dia. 


Quando o filme escolhe fazer com que Malorie seja uma heroína de ação com uma espingarda na mão, todo o medo que a gente tem que compartilhar com ela deixa de existir. Todos os personagens do filme estão preparados demais para esse "apocalipse". Comida nunca é algo realmente discutido, só mencionado... Quando vira preocupação, eles simplesmente vão no mercado... e tiram as vendas lá. Soluções e teorias sobre o mundo do lado de fora também são deixadas de lado. Quando eles tem vontade de sair da casa, eles simplesmente saem, sem o desespero que os aflige no livro. 

A maior parte da jornada da protagonista é perdida. Ela nunca esteve realmente sozinha. Quando a irmã morre, ela imediatamente já está dentro da casa onde ela vai passar o resto de sua história. Quando todo mundo morre por causa do Gary no livro, o filme fez questão de deixar o Tom vivo para ter um romance desnecessário e nada desenvolvido. Toda a força da Malorie vem de criar suas crianças sem ajuda nenhuma, preparando-as para o dia que precisariam ir para o rio. A ligação do Rick e do refúgio acontece no dia em que ela perde todo mundo. Ela passa quatro anos treinando as crianças para poderem ajudar na jornada. Desde recém-nascidos treinando a acordar com os olhos fechados. Quando acordavam com olhos abertos, apanhavam. Quando fechados, eram alimentados. Condicionados desde que começaram a existir. 

O clímax do livro acontece durante o parto de Malorie e Olympia. Sim, a mesma cena que não dura quase nada no filme. Greg tortura Malorie e Olympia psicologicamente enquanto todo mundo está morrendo no andar debaixo (por sinal, Greg entrar foi votação da casa inteira. Jogarem a culpa só na Olympia foi muito sujo). Malorie é obrigada a fazer o próprio parto, cortar o próprio cordão umbilical e tampar os olhos do seu filho enquanto as criaturas já estão até dentro da casa. Tudo isso com os olhos fechados, já que (diferente do filme) ninguém abre os olhos sem ter um ótimo motivo para isso! Isso já nos capítulos finais do livro. O filme coloca isso na metade... então parece que depois dessa cena, todo o resto é bem menos importante. A gente já viu os limites da loucura humana... o perigo deixa de ser as criaturas.


Nem todas as mudanças foram negativas. A decisão de não usar animais no filme foi ótima! Apesar dos cachorros em Caixa de Pássaros terem um papel muito importante, é melhor do que colocá-los apenas pra morrer em mais uma apelação para o emocional. Já que nada tem a profundidade que devia ter, é melhor deixar esse clichê para lá! O uso de GPS no carro é algo genial que o livro simplesmente esqueceu que existia... Mas todas as outras mudanças são negativas. 

No livro, o fato dela não ter nomeado as crianças faz muito mais sentido. É um mundo solitário, apenas treinados para sobreviver. No filme, essas crianças cresceram em "família". Tiveram um alicerce maior do que apenas a sobrevivência. Não há motivos para elas não terem nome. O momento em que as crianças ganham os seus nomes foi muito bem adaptado e a atuação da menininha (Vivien Lyra Blair, que eu espero que tenha uma longa carreira) foi perfeita ao ser chamada pela primeira vez de Olympia... uma inocência que estava bem descrita no livro!! 

  CONCLUINDO


Eu poderia passar mais alguns parágrafos falando sobre como a adaptação poderia ter sido melhor e mais fiel... mas a verdade é que existem centenas de maneiras de fazer um bom filme sem ser necessariamente fiel (Stanley Kubrick sabe do que eu tô falando). Bird Box não é nada fiel e, ainda assim, é um filme divertido de assistir. É um filme com conceitos originais, mas poderia ser bem mais original se seguisse o livro e não caísse em algumas coisas feitas de maneira bem mais original por Um Lugar Silencioso (como o sacrifício do pai pela família). Caixa de Pássaros, o livro, também não é muito bem escrito, mas a história é tão boa e criativamente conduzida que a gente releva certos clichês e entende que um romance de estreia deve ser usado para adquirir experiência. 

O importante é que o filme é um dos mais assistidos da história da Netflix, apresentou a Sandra Bullock para uma geração inteira que nunca assistiu Miss Simpatia ou Velocidade Máxima... E, principalmente, deu dinheiro para a Netflix fazer uns 50 filmes mais baratos!! Que venham mais adaptações.